Em abril de 1988, piloto conseguiu trazer de volta ao chão um Boeing 737 que havia sofrido descompressão explosiva e tinha um rombo de 35 metros quadrados na cabine de passageiros. Uma comissária de bordo morreu ao ser sugada em pleno ar. Episódio mudou a forma como manutenção das aeronaves é feita em todo o mundo.
Em um início de tarde de céu claro e pouco vento quando a torre de controle do aeroporto de Kahului, na ilha havaiana de Maui, recebeu a mensagem de “mayday” (emergência) de um avião da Aloha Airlines. Os controladores não sabiam, mas seriam personagens de uma das grandes histórias da aviação mundial.
No caso, a aeronave era uma velha conhecida: um 737-200 da Aloha Airlines que fazia vários voos curtos entre as ilhas do arquipélago todos os dias —e minutos antes, inclusive, já tinha pousado e decolado do Maui naquele abril de 1988.
A comunicação por rádio entre torre e tripulação não estava boa; havia muito barulho na cabine, e a copiloto atribuiu a emergência a uma perda súbita de pressurização, provavelmente pela abertura de uma das portas da aeronave.
A torre de Kahului não tinha muita ideia da gravidade da situação, mas deu prioridade ao pouso de emergência para o voo 243. Em um primeiro momento, o controlador não achou necessário nem acionar as ambulâncias do aeroporto.
Havia um indicativo de que a situação era mais séria: um pilotos pediu reforços médicos para um possível pouso de barriga (sem os trens de pouso), já que a luz do painel do 737 que indicava o engate das rodas dianteiras não havia acendido. Mas nada poderia ter preparado quem estava no aeroporto para o que eles viram quando o Aloha 243 finalmente tocou o solo: não houve a perda de uma porta apenas, mas sim de 35 metros quadrados da fuselagem da cabine de passageiros, completamente arrancada, de uma lateral à outra do 737 (veja abaixo). Era possível ver um rasgo de 5,5 metros de um lado a outro entre a cabine passageiros e a asa, e passageiros presos à aeronave apenas pelos cintos de segurança.
Uma vez no chão, a situação ficou mais clara. Dos 94 ocupantes, 65 tinham ferimentos dos mais diversos tipos, oito estavam em estado grave, mas a maioria estava consciente. Todos estavam vivos. Havia um problema, porém: o avião havia decolado com 95 pessoas.
Inspeção noturna
Dentro da aeronave, poucos sinais haviam sido dados antes do incidente. Uma inspeção havia sido feita na aeronave ainda de madrugada, antes de o sol nascer e do primeiro voo do dia. Ela não encontrou nenhum problema. Naquela época, a FAA, órgão que fiscaliza a aviação civil nos EUA, não obrigava inspeções ou checagens visuais antes de cada decolagem, nem era este um procedimento adotado pela companhia.
O Boeing da Aloha Airlines era um dos mais antigos 737-200 em operação. Ele havia sido entregue em maio de 1969, com o número 152 na linha de montagem. A Aloha tinha 11 aviões que faziam majoritariamente voos curtos entre as ilhas do arquipélago, com um número alto de ciclos de decolagem e pouso.
O modelo em questão tinha 35.496 horas de voo e impressionantes 89.680 ciclos no momento do acidente – o segundo 737 com mais decolagens e pousos no currículo no mundo inteiro até aquele momento, perdendo apenas para um “irmão” da mesma companhia aérea.
O voo fatídico
Foram seis voos somente na manhã daquele dia. Em um deles, a tripulação foi trocada, e mais dois voos foram realizados. No voo fatídico, o comandante era o experiente Robert Schornstheimer, 44 anos, com a copiloto Madeline Tompkins, 36 anos, a seu lado. Três comissárias integravam a tripulação, e um controlador de voo estava no “jump seat”, um banco banco retrátil que fica na cabine de pilotagem.
Tompkins seria a responsável por pilotar, enquanto o comandante Schornstheimer ficaria a cargo das comunicações. A decolagem ocorreu normalmente, às 13h25 locais.
A aeronave atingiria a altitude de cruzeiro a 7.300 metros, mais baixo que o normal —por se tratar de um voo muito curto, de menos de uma hora. A pouca duração também fazia com que as comissárias iniciassem o serviço de bordo ainda durante a subida, e o sinal de cinto de segurança afivelado permanecia aceso para os passageiros durante quase toda a rota.
Pânico a bordo e um altíssimo barulho de ‘whoooooooof!’
Quase imediatamente após atingir os 7.300 metros, apenas as comissárias não usavam cinto. Foi neste momento em que um barulho muito alto de algo se rasgando foi ouvido.
“Eu estava sentado três fileiras atrás de onde o rasgo terminava”, contou na ocasião o passageiro Stanford Samson ao jornal “New York Daily News”. “Tudo o que eu ouvi foi um altíssimo ‘whoooooooof!’ Olhei pra cima e só consegui ver o céu. Você não conseguia ouvir nem os próprios pensamentos. Você olha pra cima e vê o céu. só Deus estava acima de nós.
O que aconteceu foi uma descompressão explosiva que arrancou o teto e boa parte das laterais da fuselagem do 737. Um vento fortíssimo tomou conta da cabine, carregando fragmentos da aeronave, malas e até dinheiro, entre outros detritos. Muitos passageiros foram atingidos e feridos por eles. Outros bateram a cabeça no momento da explosão. O barulho tornava a comunicação quase impossível. Clarabelle Lansing, de 58 anos, estava de pé no corredor, na altura da fileira 5, logo acima da seção do teto que se abriu em pleno voo. Ela havia dedicado os últimos 37 anos à profissão e era a chefe do serviço de bordo do voo 243.
“Eu vi a comissária vindo em minha direção, de frente. Quando tudo explodiu, eu joguei minha cabeça para baixo e, quando levantei, ela não estava lá”, contou Samson em seu depoimento. Ninguém viu Lansing, e nunca mais veria. A comissária foi ejetada em pleno voo. Nem seu corpo, nem parte alguma do 737 jamais foi retirado das águas do Pacífico, e ela foi declarada morta por presunção. Lansing foi homenageada com um memorial, na forma de um jardim, dentro do aeroporto de Honolulu.
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